quarta-feira, 25 de março de 2020

QUANDO MEU OUTONO CHEGAR

Quando comecei meu blog...
Sempre amei escrever, para mim uma necessidade  da  alma.
Me coloco nas palavras, me entendo ao escrever o que tenho dentro de mim.
Sempre escrevi. Desde menina deixo registros dos meus sentimentos em papeis soltos, escondidos entre páginas de livros e em um diário que foi rasgado há uns anos...
Não é segredo para quem me acompanha aqui, que vivi um casamento longo e abusivo, triste... Foi quando ele leu meu diário que precisei parar de escrever, então ele foi destruído.
Mas, precisava escrever. Escrevia em folhas de caderno, lia e e queimava. Me aquietou por um tempo, mas as palavras que não escrevo me sufocam. Então surgiu,  tímido como eu e  como um por de sol de outono , o meu blog.
Cheio de nuvens, por vezes escuras, outras vezes avermelhadas, brilhantes, misteriosas...
 
Era um tempo onde eu ansiava por mudança, por libertação, por transformação. Primeiro no meu interior, depois, assim como as arvores no outono, me despir de tudo envelhecido, machucado, para dar lugar ao novo, a renovação.
Não sei quando comecei a amar o outono, só sei que as folhas  caindo, mudando de cor, sendo varridas por ventos suaves que sopram principalmente nos fins de tardes, me encantam!
Então percebi a semelhança entre o outono e o que eu sentia.
A ânsia de mudança, mas não era ainda a minha estação.
Precisava mudar as folhas, perder galhos, deixar de florir e frutificar, adormecer dentro de mim e ficar a espera de Quando Meu Outono Chegar.
 

sexta-feira, 6 de março de 2020

EU...


Acho que estou mesmo velha, perdendo a capacidade de me reinventar, de renascer, de reviver, de reconstruir...
Antes eu era como uma corrente de água forte que contornava os obstáculos, abria brechas  entre as rochas e seguia sempre em frente. As vezes eu era como a água calma, fraquinha...mas me serpenteava, contorcia a procura de um lugar onde eu pudesse desaguar e continuar meu percurso. Seguia sem medo.  Muitas vezes sem saber para onde, mas seguia. Seguia com fé, na esperança de desaguar em um rio calmo e seguir para o mar, depois descansar na praia... Nunca encontrei a praia, nunca descansei...
Hoje, não sou uma corrente de água que secou, mas como uma borboleta que foi tirada do casulo antes do tempo. Frágil, assustada... Ou melhor, uma borboleta velha, que teve as asas machucadas e não consegui mais voar. Remendos  não servem para consertar asas, o peso atrapalha o voo. Não tem como voltar a ser casulo, para começar do começo, ter asas novas...já se foi essa fase.
Sei que não voltarei a ser como antes. Contento em voar baixinho, em pequenos voos, mas sem tanto medo, sabendo a direção.
Talvez, quem sabe, voltar a ser como água cristalina, que segue calma, serena, seu curso tranquilo  entre as margens de areia, onde borboletas venham descansar.